RESUMO: A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO[1]
FASCÍCULO DA FACULDADE IPIRANGA
–PROGRAMA DE LICENCIATURAS INTEGRADAS – EIXO DE FORMAÇÃO COMUM, Belém,
PA, 2014. CAPÍTULOS: I Filiação
Religiosa e Estratificação Social; II O
Espírito do Capitalismo. Autor: Max Weber. Editora. Elaborado
de 25/09/2014 a 00/09/2014.
Sebastião Pereira Viana Júnior[2]
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
No presente resumo Weber nos dá uma amostra do que
foi a mudança de comportamento segundo os parâmetros RELIGIOSOS, e CAPITALISTA.
O comportamento de países protestantes, fez com que essas nações dessem um
salto de seu desenvolvimento capitalista, enquanto os católicos foram,
ultrapassados.
Ele nos mostra a filiação religiosa e a
estratificação social como sendo mazelas da sociedade capitalista a religião
funciona como uma empresa,ela segue uma hierarquia. Em o Espírito do
Capitalismo, eles nos mostra um protestante sedento por lucro, enquanto o
católico vivia uma vida mais comportada, o protestante incorporou esse espírito
capitalista.
I
Filiação Religiosa e Estratificação Social
Uma simples olhada nas estatísticas ocupacionais de
qualquer país de composição religiosa mista mostrará, com notável frequência,
uma situação que muitas vezes provocou discussões na imprensa e literatura
católicas e nos congressos católicos, principalmente na Alemanha: o fato que os
homens de negócios e donos do capital, assim como os trabalhadores mais
especializados e o pessoal mais habilitado técnica e comercialmente das modernas
empresas é predominantemente protestante.
Este fato não se
verifica apenas onde a diferença de religião coincide com uma nacionalidade, e
portanto com seu desenvolvimento cultural, como no caso da Alemanha oriental e
da Polônia. Observamos a mesma coisa onde se fez levantamentos de filiação religiosa,
por onde quer que o capitalismo, na época de sua grande expansão, pôde alterar
a distribuição social conforme suas necessidades e determinar a estrutura
ocupacional. Quanto maior foi a liberdade de ação, mais claro o efeito
apontado.
É bem verdade que a maior participação relativa dos
Protestantes na propriedade do capital, na direção e nas esferas mais altas das
modernas empresas comerciais e industriais pode em parte ser explicada pelas
circunstâncias históricas oriundas de um passado distante, nas quais a filiação
religiosa não poderia ser apontada como causa de condição econômica, mas até
certo ponto parece ser resultado daquela.
Os
resultados de tais circunstâncias favorecem os protestantes, até hoje, na sua
labuta pela existência econômica. Surge assim a indagação histórica: porque os
lugares de maior desenvolvimento econômico foram, ao mesmo tempo, particularmente
propícios a uma revolução dentro da Igreja? A resposta não é tão simples como
se poderia pensar.
Além disso há algo especialmente importante: pode
ser, como já foi aventado, que a maior participação dos protestantes nas
posições de proprietário e de dirigente na moderna vida econômica seja
entendida hoje, pelo menos em parte, simplesmente como resultado da maior
riqueza material herdada por eles. Contudo, há certos fenômenos que não podem
ser explicados por esse caminho. Só para citar alguns, há uma grande diferença
perceptível, em Baden, na Baviera e na Hungria, no tipo de educação superior
que católicos e protestantes proporcionam a seus filhos. O fato de a
porcentagem de católicos entre os estudantes e os formados nas instituições de
ensino superior ser proporcionalmente inferior à população total, pode,
certamente, ser largamente explicado em termos de riqueza herdada. Porém, entre
os próprios formados católicos, a porcentagem dos que receberam formação em instituições
que preparam especialmente para os estudos técnicos e ocupações comerciais e industriais,
e em geral para a vida de negócios de classe média, é muito inferior à dos protestantes.
Por sua vez, os católicos preferem o tipo de aprendizagem oferecido pelos ginásios
humanísticos. Essa é uma circunstância à qual não se aplica a explicação acima apontada,
mas que, ao contrário, é uma das razões do pequeno engajamento dos católicos nas
empresas capitalistas.
Mais notável ainda é
um fato que explica parcialmente a menor proporção de católicos entre os
trabalhadores especializados na moderna indústria. Sabe se que as fábricas arregimentaram
boa parte de sua mão de obra especializada entre os jovens artesãos; contudo,
isso é muito mais verdadeiro para os diaristas protestantes que para os
católicos.
A menor participação dos católicos
na moderna vida de negócios da Alemanha é tão notável justamente porque
contraria a tendência observada em todos os tempos,” até
mesmo no presente.
Um escritor
contemporânea tentou definir a diferença de atitudes diante da vida econômica da
seguinte maneira: “O católico é mais quieto, tem menor impulso aquisitivo;
prefere uma vida a mais segura possível, mesmo tendo menores rendimentos, a uma
vida mais excitante e cheia de riscos, mesmo que esta possa lhe propiciar a oportunidade
de ganhar honrarias e riquezas. Diz o provérbio, jocosamente: “Coma ou durma bem”.
Neste caso, o protestante prefere comer bem, e o católico, dormir sossegado”.
De
fato, esse desejo de “comer bem” pode ser encarado como uma caracterização
correta, embora incompleta, da motivação de muitos dos protestantes da Alemanha
atual. Mas as coisa nem sempre foram assim: os puritanos ingleses, americanos e
holandeses tinham a característica exatamente oposta à alegria de viver, um fato
que é, como veremos, da maior importância para o nosso estudo. Além disso, os
protestantes franceses, entre outros, conservaram e ainda conservam, em certa
medida até hoje, as características das igrejas calvinistas de todos os países,
especialmente as sob a cruz do tempo das guerras religiosas.
Não obstante, tais
características foram (ou talvez tenham sido até as causas, como indagaremos
mais adiante) sabidamente um dos mais importantes fatores de desenvolvimento do
capitalismo e da indústria na França,. (...). Ambos diferem de modo semelhante
da tendência religiosa predominante em seus respectivos países. Os católicos da
França são, em seus escalões inferiores, grandemente interessados nos prazeres
da vida e, nas camadas superiores, francamente hostis à religião. Os
protestantes da Alemanha, do mesmo modo, são absorvidos pelas atividades econômicas
diuturnas e, nas suas camadas superiores, são muito indiferentes à religião.
Do mesmo modo, é uma
notável circunstância que muitos dos maiores empreendedores capitalistas – até
Cecil Rhodes – tenham tido origem em famílias de clérigos, o que pode ser
interpretado como uma reação contra a sua formação ascética.
Essa forma de explicação, contudo, torna se falha quando se combinam um
extraordinário senso capitalístico dos negócios com as mais intensas formas
religiosas nas mesmas pessoas e grupos, e que lhes penetra e direciona a vida
toda.
(...)...Mas nem
todas as ramificações protestantes parecem ter tido a mesma poderosa influência
nesse sentido. A do Calvinismo, mesmo na Alemanha, parece ter sido das mais
fortes, e a fé reformada” parece ter promovido o desenvolvimento do espírito do
capitalismo no Wupperthal como em outro lugares.
(...)...Se quisermos
encontrar uma relação interna entre certas expressões do velho espírito
protestante e a cultura capitalista moderna, A Ética Protestante e o Espírito
do Capitalismo deveremos tentar encontrá-la, bem ou mal, não na alegria de
viver mais ou menos materialista, ou ao menos anti-ascética, mas nas suas
características puramente religiosas.
Mostesquieu (Esprit des Lois, Livro XX, cap, 7) diz
dos ingleses que “foram, de todos os povos, os que mais progrediram em três
coisa importantes: na religião, no comércio e na liberdade”. Não seria possível
que sua superioridade comercial e sua adaptação às instituições políticas
liberais tivessem, de algum modo, relação com a religiosidade que Mostesquieu
lhes atribui?
II
O Espírito do Capitalismo
No título deste estudo usamos a frase, algo
pretensiosa, o espírito do capitalismo. O que se entende por isso? A tentativa
de dar qualquer definição para isso implica em certas dificuldades, inerentes à
natureza deste tipo de investigação.
Esse é um resultado necessário da natureza dos
conceitos históricos que tentam, para suas finalidades metodológicas, apanhar a
realidade histórica não em uma forma abstrata e geral, mas em concretos
conjuntos genéticos de relações, inevitavelmente de caráter individual, e especificamente
únicos.
Por isso, se tentarmos determinar o objeto, a
análise e explicação histórica tentadas não podem ser feitas na forma de
definição conceitual, mas, ao menos no início, como uma descrição provisória do
que entendemos aqui por espírito do capitalismo. Tal descrição é entretanto
indispensável para uma compreensão clara do objetivo da investigação. Com essa
finalidade, remetemo-nos a um documento desse espírito, que contém, em uma
pureza quase clássica, aquilo que buscamos – com a vantagem de ser ao mesmo
tempo livre de qualquer relação direta com a religião, sendo pois, para os
nossos propósitos, livre de preconceitos.
“Lembre-se que o tempo é dinheiro. Para aquele que
pode ganhar dez shillings por dia pelo seu trabalho e vai passear ou fica ocioso
metade do dia, apesar de não gastar mais que seis pence em sua vadiagem ou
diversão, não deve ser computada apenas essa despesa; ele gastou, ou melhor,
jogou fora. mais cinco shillings. “Lembre-se que o crédito é dinheiro. Se um
homem deixa seu dinheiro em minhas mãos por mais tempo que o devido, está me
dando os juros, ou tudo o que eu possa fazer com ele durante esse tempo. Isto
atinge somas consideráveis quando alguém goza de bom e amplo crédito, e faz
dele bom uso. “Lembre-se que o dinheiro é de natureza prolífica e geradora. O
dinheiro pode gerar dinheiro, e seu produto gerar mais, e assim por diante.
Cinco shillings circulando são seis; circulando de novo são sete e três pence e
assim por diante, até se tornarem cem libras. Quanto mais dele houver, mais
produz a cada aplicação, de modo que seus juros aumentam cada vez mais
rapidamente. Aquele que mata uma porca prenhe, destrói sua descendência até a
milésima geração. Aquele que “mata” uma coroa, destrói tudo aquilo que poderia
ter produzido, até muitas libras”.
“Lembre-se do ditado: O bom pagador é dono da bolsa
alheia . Aquele que é conhecido por pagar exata e pontualmente na data
prometida pode, a qualquer momento e em qualquer ocasião, levantar todo o
dinheiro de que seus amigos possam dispor. Isso, por vezes, é de grande
utilidade. Além da industriosidade e da frugalidade, nada contribui mais para a
subida de um jovem na vida que a pontualidade e a justiça em todos os seus
negócios; por isso, nunca mantenha dinheiro emprestado uma hora sequer além do
tempo prometido, para que o
desapontamento não feche para sempre, à bolsa de teus amigos”.
“Por seis libras anuais poderás desfrutar do uso de cem libras, desde
que sejas um homem de reconhecida prudência e honestidade.”
Aquele que gasta um groat por dia inutilmente, desperdiça mais de seis
libras por ano, que seria o preço do uso de cem libras.”
Aquele que desperdiça o valor de um groat de seu tempo por dia, um dia
após o outro, desperdiça o privilégio de usar cem libras a cada dia.”
“Aquele que perde inutilmente o valor de cinco shillings de seu tempo,
perde cinco shillings, e poderia com a mesma prudência tê- los jogados ao mar.”
Aquele que perde cinco shillings, não perde apenas essa soma, mas
também todas as vantagens que poderia obter investindo a em negócios, e que
durante o tempo em que um jovem se torna um velho, se tornaria uma soma
considerável”.
É Benjamin Franklin que nos admoesta com tais sentenças, as mesmas que
Ferdinand Kürnberger satiriza em seu inteligente e malicioso Picture of
American Culture , como uma suposta confissão de fé do yankee. Não há o que
duvidar de que é o espírito do capitalismo que aqui se expressa de modo
característico, conquanto estejamos longe de afirmar que tudo o que possamos
entender como pertencente a ele esteja contido nisso.
(...)...o espírito dessa colocação é evidentemente bem diferente das de
Franklin. Aquilo que no caso de Franklin foi uma expressão de audácia comercial
e uma inclinação pessoal moralmente neutra assume nesse outro o caráter ético
de uma regra de conduta de vida. O conceito de espírito do capitalismo é usado
aqui no sentido específico de espírito do capitalismo moderno. (...)... Pelo
modo como estamos colocando o problema, é obvio que estamos nos referindo ao capitalismo
da Europa Ocidental e da América do Norte. O capitalismo existiu na China, na índia,
na Babilônia no mundo clássico e na Idade Média.
Se pois formularmos a pergunta por que devemos fazer
dinheiro às custas dos homens, o próprio Benjamin Franklin, embora não fosse um
deísta convicto, responde em sua autobiografia com uma citação da Bíblia que
lhe fora inculcada pelo pai, rígido calvinista, em sua juventude : “Vês um
homem diligente em seus afazeres? Ele estará acima dos reis”. (Provérbios 22;
29). O ganho de dinheiro na moderna ordem econômica é, desde que feito
legalmente, o resultado e a expressão da virtude e da eficiência em certo
caminho; e essas eficiência e virtude são, como agora se tornou fácil de ver, o
alfa e o ômega da verdadeira ética de Franklin, como foi expressa nos trechos citados,
tanto quanto em todos os seus escritos, sem exceção.
Naturalmente, essa
concepção não se manifestou apenas sob as condições capitalistas. Pelo contrário,
mais tarde seguiremos suas origens em tempos anteriores ao advento do capitalismo.
Naturalmente não afirmamos tampouco
que a aceitação consciente de tais máximas éticas por parte dos indivíduos,
quer empresários quer trabalhadores das modernas empresas capitalistas seja
condição para a futura existência do capitalismo atual. A economia capitalista
moderna é um imenso cosmos no qual o indivíduo nasce, e que se lhe afigura, ao
menos como indivíduo, como uma ordem de coisas inalterável, na qual ele tem de
viver. Ela força o indivíduo, a medida que esse esteja envolvido no sistema de
relações de mercado, a se conformar às regras de comportamento capitalistas.
Assim pois, o capitalismo atual, que veio para
dominar a vida econômica, educa e seleciona os sujeitos de quem precisa,
mediante o processo de sobrevivência econômica do mais apto.
(...)...o espírito do
capitalismo, (no sentido adotado) estava presente antes da ordem capitalista.
Havia queixas contra uma habilidade peculiar de cálculo para obtenção de lucro
na Nova Inglaterra, que se distinguia das outras partes da América, desde os
idos de 1632. Está fora de questão que o capit alismo permaneceu, de longe,
menos desenvolvido em algumas das colônias vizinhas, que depois se tornariam os
estados do sul dos Estados Unidos da América.
A origem e a história
de tais idéias é porém muito mais complexa do que supõem os teóricos da
superestrutura. O espírito do capitalismo, no sentido em que usamos o termo, teve
de lutar por sua supremacia contra um mundo inteiro de forças hostis.
O predomínio
universal da absoluta falta de escrúpulos na ocupação de interesses egoístas na
obtenção do dinheiro tem sido uma característica daqueles países cujo
desenvolvimento burguês capitalista, medido pelos padrões ocidentais,
permaneceu atrasado.
Em todos os
períodos históricos, sempre que foi possível houve a aquisição cruel, desligada
de qualquer norma ética. Como a guerra e a pirataria, o comércio tem sido, muitas
vezes, irrestrito em suas relações com estrangeiros e com os externos ao grupo.
A dupla ética permitiu o que era proibido negociar entre irmãos.
A aquisição capitalista aventureira tem sido familiar
em todos os tipos de sociedade econômica que conheceram o comércio com o uso do
dinheiro e que ofereciam oportunidades mediante comenda, exploração de
impostos, empréstimos de Estado, financiamento de guerras, cortes ducais e
cargos públicos.
O mais importante
oponente contra o qual o espírito do capitalismo, entendido como um padrão de
vida definido e que clama por sanções éticas, teve de lutar, foi esse tipo de atitude
e reação contra as novas situações, que poderemos designar como
tradicionalismo. Também nesse caso, qualquer tentativa de definição final deve
ser mantida em suspenso. Devemos, por outro lado, tentar dar um sentido
provisório claro, citando alguns casos. Começaremos por baixo, pelos
trabalhadores.
Um dos meios técnicos
de que os empregadores modernos lançam mão para garantir o maior volume
possível de trabalho de seus homens é o sistema de pagamento por tarefa.
(...)...Por exemplo, um homem que ganha 1 marco por acre ceifado, ceifa 2 e 1/2
acres por dia e ganha dois marcos e meio por dia; quando o valor da tarefa foi
aumentado para 1,25 marcos por acre ceifado, não ceifou 3 acres, como poderia
ter feito facilmente, ganhando 3,75 marcos, mas ceifou apenas 2 acres de modo a
continuar ganhando os 2,5 marcos a que estava acostumado. A oportunidade de
ganhar mais foi menos atraente do que trabalhar menos. Ele não se perguntava:
quanto poderia ganhar em um dia se eu fizesse o maior trabalho possível? Em vez
disso, perguntava se: quanto devo trabalhar para ganhar o salário,de 2,5 marcos
que eu ganhava antes e que bastava para as minhas necessidades tradicionais?
Este é um exemplo do
que queremos significar aqui por tradicionalismo. O homem não deseja
“naturalmente” ganhar mais e mais dinheiro, mas viver simplesmente como foi acostumado
a viver e ganhar o necessário para isso. Onde quer que o capitalismo moderno tenha
começado sua ação de aumentar a produtividade do trabalho humano aumentando sua
intensidade, tem encontrado a teimosíssima resistência desse traço orientador
do trabalho pré-capitalista. E ainda hoje a encontra, e por mais atrasadas que
sejam as forças de trabalho (do ponto de vista capitalista) com que tenha de
lidar.
Mas a eficácia desse método, aparentemente tão
eficiente, tem seus limites. Obviamente, um excesso de mão de obra que possa
ser empregada a baixo preço no mercado de trabalho é uma necessidade para o
desenvolvimento do capitalismo. Mas, embora tão grande exército de reserva
possa em certos casos favorecer a expansão quantitativa, ele desafia seu desenvolvimento
qualitativo, especialmente para as empresas que fazem uso mais intensivo do
trabalho. Baixos salários não são sinônimo de trabalho barato. De um ponto de
vista puramente quantitativo, a eficiência do trabalho diminui com um salário
que seja fisiologicamente insuficiente, que, a longo prazo, signifique a
sobrevivência da inépcia.
O capitalismo de hoje, por estar em posição de
comando, pode recrutar suas forças de trabalho com certa facilidade. (...)...O
tipo de mão de obra retrógrada tradicional é, com muita frequência
exemplificado pelas mulheres trabalhadoras, especialmente as não casadas.
A habilidade de concentração mental, tanto quanto o
sentimento de dever, absolutamente essencial, em relação ao trabalho, são aqui
muitas vezes combinados com uma economia rígida, que calcula a possibilidade de
altos ganhos, um frio autocontrole e frugalidade que, aumentam enormemente o
desempenho.(...)... Isto
fornece o fundamento mais favorável para a concepção do trabalho como um fim em
si mesmo, como uma vocação necessária ao capitalismo: as oportunidades de
superar o tradicionalismo são maiores por conta da formação religiosa.
Essa observação do capitalismo
atual sugere por si mesma a validade da indagação de como essa conexão entre adaptabilidade
ao capitalismo e fatores religiosos possa ter surgido nos momentos iniciais de
seu desenvolvimento.
Voltemos contudo ao
presente, e agora para o empresário, para esclarecer o significado do tradicionalismo
no caso deste. Sombart, na sua discussão sobre a gênese do capitalismo, fez a
distinção entre satisfação das necessidades e aquisição como sendo os dois
grandes princípios orientadores da história econômica.
(...)...No primeiro caso, a obtenção dos bens necessários à satisfação
das necessidades pessoais,
(...)...e
no segundo, a luta para obter lucros sem os limites impostos pelas
necessidades, tem sido as finalidades controladoras da forma e da direção da
atividade econômica.
A saber, empresas dirigidas por empreendedores
particulares utilizando capital (dinheiro ou bens com valor monetário) para
obter lucro, comprando os meios de produção e vendendo o produto, isto é,
empresas indubitavelmente capitalistas podem ao mesmo tempo ter um caráter,
tradicionalista.
(...)...Apesar disso, usamos provisoriamente a
expressão do espírito do capitalismo (moderno) para designar a atitude que
busca o lucro racional e sistematicamente.
E o que é mais importante nessa relação, o que
trouxe essa revolução, em tais casos, não foi geralmente o fluxo de dinheiro
novo investido na indústria – em muitos casos que conheço, todo o processo
revolucionário foi acionado por poucos milhares de capital emprestado de conhecidos
– mas foi o novo espírito, o espírito do moderno capitalismo que fez o trabalho.
(...)...Quando o
imaginário de todo um povo se volta para grandezas puramente quantitativas,
como nos Estados Unidos, esse romantismo de números exerce um irresistível
apelo sobre os poetas entre os homens de negócios. Estes, por outro lado, não são
geralmente os verdadeiros líderes, e em especial não são empreendedores de
sucesso permanente que são por ele aliciados
Mas é exatamente isto
que parece ao homem pré-capitalista tão incompreensível e misterioso, tão
desprezível e sem valor. Que alguém possa ser capaz de fazer disso o único fim
de sua vida útil, descer ao sepulcro vergado sob o peso de tão grande carga
material de dinheiro e bens, parece lhe explicável apenas como o produto de um
instinto perverso, da auri sacra fame.
(...)...Quem quer que
não adapte seu modo de vida às condições do sucesso capitalista é sobrepujado,
ou pelo menos é impedido de subir.(...)... Se foi esse o caso, e em que sentido, será objeto de
nossa investigação. Será desnecessário provar que o conceito de ganhar dinheiro
como um fim a si mesmo, ao qual as pessoas estava presas como a uma vocação,
sempre foi contrário ao sentimento ético de todas as épocas.
Suas vidas
profissionais, enquanto estiveram atados às tradições da igreja, eram na melhor
das hipóteses, algo eticamente indiferente; era tolerada, mas mesmo assim, por
conta do contínuo perigo de conflito com a doutrina da igreja, algo perigoso
para a salvação.
Somas bem
consideráveis, como as fontes nos mostram, ao morrer dos ricos, eram transferidas
para as instituições religiosas como dívida de consciência, e por vezes até retornavam
como usura aos devedores anteriores, de quem tinha sido cobrada injustamente.
(...)...O fato a ser
historicamente explicado é que no centro mais altamente capitalista da época a
Florença dos séculos XIV e XV, mercado de dinheiro e capital de todos os
grandes poderes políticos, essa atitude era considerada injustificável eticamente
e na melhor das hipóteses, tolerada; e todavia, nas circunstâncias retrógradas
e pequeno burguesas da Pennsylvania do século XVIII.(...)... Qual seria pois o arcabouço ideológico que
poderíamos apontar para o tipo de atividade aparentemente direcionadas para o
lucro em si, como uma vocação para com a qual o indivíduo sinta uma obrigação
ética ? Pois que foi este tipo de idéias que determinou o modo de vida dos
novos empreendedores, seus fundamentos éticos e justificativas.
(...)...Sem dúvida justificadamente, se entendermos
por isso a extensão da produtividade do trabalho que aliviou, mediante a
subordinação dos processos produtivos aos pontos de vista científicos, sua
dependência das limitações naturais orgânicas do ser humano.(...)...
Do mesmo modo, é uma das características fundamentais
de uma economia individualista capitalista, racionalizada com base no rigor do
cálculo, dirigida com previsão e cautela para o sucesso econômico almejado,
Poderia então parecer que o desenvolvimento do
espírito capitalista seria melhor compreendido como sendo parte do
desenvolvimento do racionalismo como:um todo, e poderia ser deduzido das
posições fundamentais do racionalismo obre os problemas básicos da vida.
A filosofia temporal racional do século XVIII não
encontrou boa acolhida principalmente nos países de maior desenvolvimento capitalista.
As doutrinas de Voltaire são até hoje propriedade comum das camadas superiores
e, o que é mais importante na prática, dos grupos de classe média dos países católicos
romanos.
Porém já nos
convencemos de este não é absolutamente o solo em que a relação do homem com
sua vocação como obrigação, que é necessária ao capitalismo, tenha
preeminentemente se desenvolvido. De fato, podemos – e esta simples
proposição muitas vezes esquecida poderia ser posta no início de qualquer
estudo que tente lidar com o racionalismo – racionalizar a vida a partir de
pontos de vista fundamentalmente diferentes e em direções muito diferentes. O
racionalismo é um conceito histórico que envolve todo um mundo de coisas
diferentes. Será nossa tarefa descobrir a filiação intelectual particular do pensamento
racional da forma concreta, de que surgiu da idéia de devoção ao trabalho e de vocação,
que é, como vimos, tão irracional do ponto de vista do auto- interesse
puramente eudemonista, mas que foi e ainda é um dos elementos mais característicos
de nossa cultura capitalista. Estamos aqui particularmente interessados
precisamente na origem do elemento irracional subjacente nesta como em qualquer
concepção de vocação.
Concluímos que o comportamento católico em
comparação ao protestante, e é de estrema diferença, para o católico mais valia
uma relação de amizade do que manter relações extremamente rígidas de mercado,
enquanto o protestante preferia manter uma relação fria extremamente
capitalista.
O espírito do capitalismo não é do século XIX como
fala Weber, ela veem a muito tempo, já na antiga Inglaterra, podia se
diferenciar as pessoas com esse comportamento extremamente capitalistas.
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